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  • Foto do escritorCecília

Entrevista com a ilustradora Tita Berredo Parte 2


Hoje vamos continuar a entrevista que eu postei ontem com a Tita.



6 - Quais técnicas você costuma usar?


Tita: A que eu mais uso e provavelmente minha preferida é a mistura de linha preta com aquarela colorida. Eu adoro aquarela líquida, e com pincéis de cartucho cheios de tinta uso a técnica de pincel molhado no papel seco. Eu me adaptei principalmente a pincéis japoneses porque eu posso calibrar a grossura do traço com a pressão que coloco no pincel. E prefiro usar papel cartão ao invés de papel de aquarela, porque ele não absorve tanto a tinta e fica bem concentrado. Eu trabalho com água e tinta em abundância, que escorre e contribui para a arte como se tivesse vida própria, gosto muito de explorar as manchas que elas causam juntas.


Também gosto de misturar materiais diferentes na mesma ilustração, como um personagem de linha preta e um animal em tinta colorida, ou fazer o cenário de aquarela com detalhes de lápis-de-cera. É uma técnica que deixa o desenho bem espontâneo e com características de traço infantil.



7 - Como é o processo que você faz para ilustrar um livro?


Tita: Para começar eu tenho sempre um livrão de criação. É como se fosse um diário de criação onde deixo tudo documentado. Lá eu faço rascunho de personagens, experimento técnicas e materiais diferentes que possam combinar com o estilo do livro, anoto desde a primeira idéia até os números de classificação da palheta de cores que eu usei. Se a parte escrita é minha também eu imprimo e colo lá toda vez que algo é modificado. Assim eu posso sempre fazer o caminho reverso para ver como cheguei no projeto final, e sempre que eu quiser tirar uma dúvida sobre algo que eu fiz está lá.


No processo de criação, o mais importante é o personagem. Ele que vai levar o livro, então ele tem que representar bem o leitor ou ao menos o cativar. Desenhar um personagem uma vez é fácil, mas desenhar o mesmo personagem umas vinte vezes em posições e de ângulos diferentes é difícil. A coisa principal é deixar o personagem que começou o livro com a mesma cara, tamanho e proporções no final. Minha agente já apontou mais de uma vez que uma personagem minha estava parecendo dois anos mais velha em algumas páginas. É dureza, provavelmente a parte mais difícil de ilustrar.


Tendo o personagem criado, passo para o rascunho de cada página do livro e monto uma “boneca”, que é como a gente chama o projeto do livro físico antes de ser finalizado. É importante ter a boneca porque é a maneira mais fácil de você "experimentar" o livro na sua mão, ver se a ordem das páginas está boa, se a estória está fluindo bem, se o personagem está consistente e se as ilustrações deixam espaço suficiente para a entrada do texto. Geralmente essa boneca é feita de rascunhos em preto e branco, ainda no começo do processo, e quando as ilustrações vão ficando prontas elas vão substituindo os rascunhos. Esse processo é meio lento, vai e volta para o editor, faz e refaz ilustração, ajusta daqui e dali… Por isso a criação de um livro ilustrado pode levar até mais de um ano. Quando as ilustrações estão finalizadas, elas são escaneadas profissionalmente e o texto é adicionado digitalmente. Daí vai para a gráfica e de lá para as livrarias.



8 - Quando você faz suas ilustrações, na hora de mandar para um escritor, como você faz para tirar foto?


Tita: Curiosamente, o escritor não costuma ver as ilustrações até o livro ficar pronto. Ao contrário do que costuma se pensar, o ilustrador e o escritor mesmo trabalhando no mesmo livro raramente se comunicam. Cada um faz seu trabalho sem mandar no outro ou dar pitaco, se precisar de modificações é o editor que faz a ponte, ele que dirige o livro e é para ele que eu mando as ilustrações.


Quando eu ainda estou na fase de rascunho eu posso tirar uma foto com o meu próprio celular e mandar para tirar alguma dúvida ou para receber opinião. Normalmente eu só tiro de cima, sem fazer sombra, e com a luz do dia. E depois se precisar eu faço um ajuste de cores na edição de fotos do próprio celular. Mas quando a ilustração vai ficando pronta ou já está finalizada eu uso o meu scanner, que é também uma impressora. É uma Canon, com tecnologia de digitalização fotográfica e que pode escanear até tamanho A4 (essas folhas normais de impressora). Quando eu estava fazendo mestrado de ilustração na Goldsmiths eu fazia ilustrações maiores e eles tinham um scanner de tamanhos maiores. Mas eu normalmente desenho em escala pequena, menor que tamanho A4, então não preciso maior que isso. Depois de escanear a minha ilustração, eu salvo em jpg. e ajusto a cor e o contraste no Photoshop.




9 - Gostaria de deixar alguma dica para os leitores?




Tita: O suficiente para desenhar é gostar de desenhar. Quanto mais você desenha, mais você descobre sobre o que gosta e o que quer aperfeiçoar. Estamos todos sempre em aprendizado. Não tem saída, para desenhar do jeito que você quer tem que começar desenhando e ponto.



Gostei muito desse novo quadro aqui no blog.

Muito interessante saber como é o processo de criação das ilustrações que nós tanto gostamos de ver nos livros.

Eles nem sempre precisam das ilustrações, mas muitas vezes elas os complementam. Assim como as ilustrações não precisam de texto, elas podem falar por si só.

Olha só essa foto, por exemplo, repararam nesse gato maravilhoso? O nome dele é Juca, ele é tipo um gato papagaio, que vive subindo no ombro dela. Ele parece um personagem de livro.

E vocês, o que acharam? Querem mais posts assim?



Tita Berredo e Juca, o gato

(A Tita mora na Escócia com seu marido Martin e seu gato Juca.)

Handle no Instagram e Twitter: @titaberredo



Todas as ilustrações desse post são de Tita Berredo

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